A cada esquina que eu passo, busco alguém como você

O sol esquenta minha cabeça enquanto caminho pelas ruas da cidade, o que me deixa nervosa e irritada. Sempre detestei o verão, ao contrário de você, que parecia se iluminar em janeiro. As temperaturas estão altas, mas não tanto quanto eu mesma gostaria de estar, agora. 

A semana acabou de começar e eu bem sei como acordaria no dia seguinte se cogitasse beber alguma coisa. A idade está começando a pesar. Já não posso cometer os excessos dos vinte e poucos anos sem arcar com as consequências.

Me ocupar com o trabalho foi a única forma que encontrei para conseguir (ou, ao menos, tentar) te esquecer. São incontáveis horas extras, que infelizmente não são intermináveis. No silêncio do meu quarto, na calada da noite, é quando a saudade bate com mais força. Desde que você se foi, sinto que segui em frente, mas as lembranças acabam me fazendo retroceder alguns passos. 

Eu estava tão bem antes de você aparecer!

Contudo, de que adianta me queixar? Não muda nada. Você não voltará e aceitar isso, em alguns momentos, é doloroso. Necessário, sim, mas não deixa de doer. Por muitas vezes sinto que meu único consolo está em uma garrafa de vinho barato.

Sim, é triste. Você apareceu e, tão logo isso ocorreu, se foi. Saiu da minha vida como alguém que deixa seu país natal para nunca mais voltar.

Nunca mais? É, é o que parece.

O que não para de se repetir na minha cabeça são inúmeros "e se?" relacionados a nós. E se tivéssemos dado um jeito? E se tivéssemos tentado com mais afinco? E se? E se?

Só que não há mais espaço para esse tipo de questionamento. Não fomos, não somos, jamais seremos. Cada um seguiu sua vida da maneira que pôde. Difícil, ao menos para mim, porém vou me acostumando. Me acostumando com a sua ausência, com não mais ter seus olhos azuis tentando ler minha mente, não mais ter sua voz soando como música para os meus ouvidos, não mais ter suas mãos esquentando meu corpo, não mais sentir seus lábios macios contra os meus.

Não mais? É, é o que parece.

Todavia, em momento algum deixei de sentir saudades e isso é notável. Não é como se pudesse controlar. A verdade é que mesmo quando seguimos a vida, nunca nos esquecemos completamente do outro. Talvez eu não possa, não deva e não queira te esquecer. Não dá para apagar alguém que tanto me marcou como você.

Só sei que, enquanto ando rumo ao trabalho sob o sol escaldante da cidade, sempre observo todos os rostos, numa esperança utópica e fantasiosa até demais. Procuro por uma nova chance, memórias e experiências similares às que vivemos. A cada esquina, a cada rua, cada passo que dou, busco alguém como você.


Nota:
Título do texto retirado da música "Manhattan", da banda Clarim Diário.