Você ri de mim sempre que saio ou só preciso de mais terapia?


Me questiono às vezes se sou uma pessoa demasiadamente sonhadora e utópica, principalmente quando sinto alguns baques mais fortes da vida. À medida que os anos passam e vou começando a ficar cada vez mais imersa na vida adulta e nos problemas que com ela vêm, me pego refletindo se era ingênua demais no passado ou se se coração realmente perece conforme envelhecemos.

Penso em todas as situações que vivenciei e sigo vivenciando ao longo dos anos, desde trabalho a relacionamentos e em algum momento chego a acreditar que o amor das pessoas se esfriou, incluindo o meu. Ao lembrar de quem eu era no passado e comparando com quem sou hoje, não posso dizer que fico muito satisfeita com essa "evolução". Sinto que, cada vez mais, me afasto e ergo muros, para me proteger. "De quê?", você pode estar se perguntando. A verdade é que nem sei, exatamente.

Poderia ir à resposta simples e dizer que quero me proteger das pessoas, mas acho que essa seria a resposta mais simplista possível, apesar de não ser uma inverdade. Muitas pessoas me causaram feridas há tempos que ainda não se curaram e sei que esse processo ainda demorará, mas não posso jogar toda a responsabilidade dos meus fantasmas a terceiros. Tenho minha parcela de culpa e, além disso, como existem vilões nas minhas histórias, sei que sou a vilã na história de alguém. 

A verdade é que sempre busquei a tal perfeição e isso é um assunto recorrente nas minhas conversas e textos. É algo da minha personalidade, eu diria. E quando digo perfeição, é simplesmente querer a tal da validação. 

Recentemente, comecei a refletir sobre a necessidade que tenho de receber validação o tempo todo e entendi que isso vem do meu passado. Acredito que por receber demais na infância, porque, como eu disse, queria ser perfeita, e ter abruptamente perdido isso na adolescência, porque, bom, não sou perfeita, mas sem nunca ter realmente entendido o motivo. 

Por que as pessoas eram cruéis comigo? Por que ainda sinto que elas são, mesmo nem sempre sejam?

Não sei se um dia conseguirei entender e sei que isso será algo que irá me acompanhar pelo resto da vida, porque sou alguém que precisa de razões, para absolutamente tudo. As coisas precisam fazer sentido para que eu possa aceitar e seguir em frente e sabemos que a vida faz raramente sentido. Ela só é o que é.

Já ouvi de muitas pessoas que tenho mania de perseguição, o que não duvido. Não é que eu me ache importante a esse ponto - ou, talvez, no subconsciente, me ache sim -, mas acredito muito que seja uma insegurança.

Minha adolescência foi um pesadelo e, quando digo isso, reconheço que sou afortunada por esse tópico não entrar em âmbito familiar. Minha família era o menor dos meus problemas, mesmo tendo pais separados e muitas pessoas com temperamento colérico no meu círculo mais próximo. Feliz ou infelizmente, o pesadelo se restringe muito a outros relacionamentos. Até hoje tenho muito poucos amigos e sinto enorme dificuldade em confiar nas pessoas, muito por reflexo daqueles tempos em que era mais jovem e fui forçada a amadurecer por conta da sociedade.

Nunca soube ou investiguei se tinha algo de diferente comigo, pois só tomei coragem para isso na fase adulta, mas eu sabia que não me encaixava dentro daquele padrão de adolescente na época simplesmente porque eu não queria ser adolescente. Nunca quis crescer, talvez uma vítima da síndrome do Peter Pan. Porém, a questão é que sou mulher e mulheres precisam amadurecer mais cedo, por imposição da sociedade patriarcal que nos cerca. Eu não estava preparada para ouvir as coisas que ouvi aos 13 anos. Não estava preparada para ouvir sobre minha aparência e o meu jeito "infantil" de forma tão pejorativa. Sendo bastante sincera, não sei como exatamente aguentei tantas coisas chorando sozinha, porque as lembranças desses momentos são um borrão na minha mente. Sei que sou uma sobrevivente, mas não sei exatamente do que.

Porém, algo que começou naqueles tempos e segue comigo até hoje - suspeito que seguirá por toda a vida - é que sempre banquei a forte, disfarçando a dor com alguma tirada irônica e sarcástica, sempre sorrindo quando queria chorar, ou simplesmente fingindo que não estava escutando. 

Aprendi a me defender de algo que nunca quis: de quem eu era, pois sempre tomei como verdade tudo o que falavam sobre mim. Acreditava muito fácil nas pessoas e, com isso, hoje me vejo um tanto cética quando o assunto são minhas capacidades e pontos fortes. Parece - e talvez seja - contraditório, mas o que posso dizer, além de "é isso"?

Acredito que muito de quem eu me tornei hoje seja reflexo desses momentos. Eu sempre estou em alerta, não consigo relaxar, minha cabeça não para. Alguns erros que cometi anos atrás vez ou outra passam em looping na minha cabeça, como uma tortura, porque o meu inferno particular é cogitar a hipótese de ter sido com alguém o que as pessoas do meu passado foram comigo.

Todo mundo passa por isso, sabe? Essa coisa de confiança quebrada. É normal, é da vida, mas o meu problema é que eu não consigo simplesmente aceitar isso. Não consigo entender. Não consigo simplesmente esquecer e seguir. Não duvido que eu guarde muita mágoa e rancor, sim, mas acho que esses processos de "liberar perdão e seguir em frente" não são lineares e cada pessoa tem seu tempo. 

Ainda não me vejo preparada para desapegar desses sentimentos, por mais estranho que isso possa parecer. A ideia de vulnerabilidade não me agrada, pois sempre que me lembro de ter exposto minhas fraquezas, isso foi totalmente ignorado ou usado contra mim. Sei que há um grande caminho para percorrer na terapia, sei que preciso de muita ajuda com tudo isso e, sobretudo, sei que o meu processo para me curar será lento, como o processo de me ferir também foi.


Nota:
Título retirado da música Fake Out, da banda Fall Out Boy.