GATILHO: Abuso sexual
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Mariana ainda se lembrava das noites em claro, quando os remédios, simplesmente, não faziam efeito. O corpo doía, a cabeça rodava, os olhos permaneciam saltados enquanto ela abraçava as pernas.
Lembrava-se de estar constantemente triste, chorando, se isolando, se culpando por algo que nunca fora sua culpa.
Na época, ficou muito mal. Sem apetite e cada vez mais magra, mais apática, mais sem vida. Não pensou que demoraria tanto para se recuperar, ainda mais depois de 4 anos.
Daquela noite em especial, ela nunca capaz esquecer e duvidava que um dia fosse.
Bebeu demais naquela balada, porém não se preocupou com isso na hora: estava entre amigos, estava com ele: o homem que amava, seu namorado. Confiava nele como um viajante confia em seu mapa.
Um erro.
Perdera as contas de quantas caipirinhas, quantas cervejas, quantos drinks havia ingerido, e, mesmo assim, ainda se lembrava muito bem do momento em que o sussurro decidido em seu ouvido a convidou para um lugar "mais reservado".
Já não tinha discernimento o suficiente para o sim ou para o não, então o seguiu para dentro do pequeno banheiro.
Mariana mal aguentava ficar de pé, mas isso não era um impeditivo. Isso não parou o namorado dela.
Isso nunca saiu de sua memória.
Depois desse episódio, ela foi consumida por uma ressaca moral. Sentia-se péssima, um verdadeiro lixo. Por que aceitara? Estava bêbada, não deveria ter bebido tanto. Não deveria ter confiado.
Contudo, ao conhecer outras mulheres que passaram por situações similares, finalmente entendeu que a culpa não era sua. Seu crime fora confiar demais na pessoa errada? Como iria saber das reais intenções daquele homem que, por tantas vezes, disse que lhe amava?
Foi necessário muito trabalho especializado para que Mariana, enfim, entendesse que seu papel não era de vilã, mas, sim, o de vítima.
Mariana preocupou-se por um instante: após tanto tempo, acreditariam nela? Ele já era um homem casado, que impacto isso poderia ter na vida daquela família?
Até que uma amiga colocou a mão em seu ombro e disse "você está fazendo a coisa certa. Estarei ao seu lado". Era toda a coragem que Mariana precisava. A justiça seria feita.
Nota:
Quantas Marianas podem estar lendo isso agora? Mulher, não fique calada: denuncie.