Para sempre, o meu garoto de Paris


As férias de verão estavam chegando na metade e Paris, definitivamente, não fazia jus à fama de verão frio europeu: as temperaturas beiravam os 40° em determinados dias. Marcela se sentiu em casa, não de uma maneira boa, pois achava que aquele calor infernal ficaria para dezembro, quando encarasse o verão carioca, somente. Ledo engano.

Numa dessas noites quentes, decidiu sair e conhecer as áreas badaladas da cidade. Chegou ao Le Zéro Zéro animada com o ambiente, afinal, quem não adoraria uma casa noturna numa noite como aquela? Quem sabe não conhecesse um francês interessante e pudesse, ao menos, trocar uma ideia. Rezava para que alguém ali falasse em inglês, pois, apesar de achar francês um idioma muito sexy, não entendia uma vírgula além de bonjour.

Chegou no bar, pediu uma dose de alguma bebida que parecia boa no copo dos outros e nem se preocupou em saber o nome: queria curtir. Seu jeito espevitado acabou despertando a curiosidade de um jovem francês ali perto. O rapaz se aproximou e puxou assunto em inglês, pois só de olhar para a morena, sabia que ela era estrangeira. E uma bela estrangeira, diga-se de passagem.

Marcela ficou aliviada em conversar em inglês com alguém, ainda mais com um cara tão bonito: alto, loiro, cabelos um pouco grandes e bagunçados, olhos azuis como o céu parisiense. Parecia que Deus lhe enviara um de seus mais belos anjos. Agradeceria a Ele depois, com certeza.

Os dois beberam, conversaram, dançaram noite adentro. Ela descobriu que o anjo se chamava Antoine (não o Griezmann) e cursava arquitetura em alguma das Universidades de Paris a qual não se lembrava depois, porque a bebida não ajudava muito nisso. Fazia trabalho voluntário e gostava de Arctic Monkeys, o que a animou demais, já que era uma de suas bandas favoritas. Ele conheceu várias facetas de Marcela, uma "belle brésilienne" que estava curtindo as férias antes de começar o curso de Comunicação Social, no Brasil. Ela adorava animais e já trabalhou como voluntária em uma ONG específica durante alguns meses em sua cidade.

A cada palavra trocada, mais e mais se divertiam e (não) se viam envolvidos numa teia de atração, o que já era inegável para qualquer pessoa que notasse a cena de fora. Mas para os inseridos, era simplesmente uma conversa natural. Não sabiam se pelo fato do álcool ou por simplesmente terem se dado bem. Ou, ainda, como Marcela costumava dizer, "o santo bateu".

Saíram da casa noturna com o sol nascendo, trocaram telefones e decidiram se encontrar mais vezes. E essas mais vezes ficaram recorrentes. Três, quatro, cinco vezes por semana, todos os dias. Já era rotina dar voltas por toda a Paris e adjacências com o garoto, que cada vez mais ficava próximo. Não que ele tivesse motivos para reclamar, obviamente.

Tony (como Marcela o apelidara) era a perfeita definição de gentleman e acabou difícil para a brasileira não se encantar com aquele rapaz tão lindo, por dentro e por fora. O primeiro beijo foi em um banco de praça, mas vários outros se seguiram: no Louvre, próximo ao Arco do Triunfo, nos degraus da Catedral de Notre Dame, sob a Torre Eiffel... Foram tantos beijos iluminados pelas famosas luzes de Paris que Marcela já havia perdido as contas. E ela não se importava com números, ela queria mesmo era beijar e beijar Antoine.

Não demorou muito para que as noites de amor acontecessem. Tiveram também manhãs, tardes, madrugadas inteiras dedicadas a sentir os corpos um do outro. Antoine adorava como Marcela ficava tão entregue e ela adorava quando Tony sussurrava "ma jolie", "mon ange", "ma chérie" enquanto se entregava a ele.

Inevitavelmente, Marcela acabou se apaixonando, mas o verão estava no fim, teria que voltar para casa. Os últimos dias tiveram um clima pesado entre os dois, pois mesmo que estivessem ocupados juntos, o pensamento da separação sempre rondava.

Por fim, um bilhete foi entregue ao francês quando a brasileira se foi. "Ne m'oublie pas" era a única frase escrita, porque era o que a garota mais queria de Tony: que ele não a esquecesse. Ele não esqueceria, mas seguiria a vida, e esperava que a menina fizesse o mesmo. Só não poderia jamais imaginar que, quase um ano depois da aventura, quando assumiu um relacionamento, a menina sentiria o coração apertar, ao saber pelo Instagram.

Eles já quase não trocavam mensagens, mas, mesmo assim, para a brasileira foi um choque. Uma lágrima solitária escorreu por sua face, porém de que adiantava? Tony fora dela em um verão, agora era de outra pessoa. Ele estava certo, seguira a vida. Talvez ela também devesse cancelar os planos das férias de inverno em Paris e ir para outra cidade. Talvez devesse tirar todos os vestígios de Tony de sua vida virtual e devesse, enfim, dar uma chance ao rapaz de Biologia que a chamara para jantar. Talvez. Contudo, em seus fones de ouvido, a voz de Alex Turner, suave, cantava "Maybe I'm too busy being yours to fall for somebody new"¹.

Secou o rosto e suspirou. Talvez fosse, enfim, hora de seguir em frente e parar de sonhar, por mais difícil que fosse. Jamais poderia apagar o que viveu, todavia poderia ter novas experiências com novas pessoas, por que não? Mas de uma coisa ela sabia: não importava quanto tempo ou quantas pessoas passariam por sua vida, ele sempre seria o seu garoto de Paris.




Notas:
¹ - "Talvez eu esteja ocupado demais sendo seu para me apaixonar por outra pessoa", trecho de Do I Wanna Know?, Arctic Monkeys.