Esse é o texto que nunca pensei em escrever.
São lembranças, lamentações e reflexões sobre os últimos acontecimentos que me fizeram lembrar de outros não tão recentes, mas ainda muito doloridos.
Lá pelos idos de 2011, eu estava no Ensino Médio. Era adolescente, vivendo a fase das bandas e já tinha um vínculo muito forte com a música de alguns anos antes. Estava com a cabeça na faculdade e todas essas coisas de vestibular, escolha de curso e tudo mais, o que é bem tenso para uma jovem de 15, 16 anos. O Orkut ainda existia, mas o Facebook começava a bombar. O Twitter ainda era Twitter e nem de longe era o que virou hoje. O Tumblr era um lugar onde postávamos sobre os nossos artistas favoritos e todas as outras coisas da adolescência (e tinha seu lado dark, mas não entrarei nesses detalhes). A internet até podia ser tóxica, mas era muito menos, até porque ainda não tínhamos smartphones com facilidade (os poucos que existiam eram artigos de luxo nessa época).
Nessa época, eu tive meu primeiro contato com dois grupos que tiveram grande importância para mim: The Wanted e One Direction. Não sei dizer qual dos dois conheci primeiro, mas diferentemente da maioria das pessoas desses fandoms, eu gostava de ambos. Sempre os entendi como tendo propostas distintas, os públicos-alvo eram diferentes na minha concepção. Para mim, não existia essa rivalidade que a mídia pregava, justamente por serem tão distintos. Existia uma dualidade em mim e senti que, naquele momento, os dois grupos contemplavam esses dois lados.
Era muito divertido acompanhar os dez rapazes, em seus video diaries ou nas WantedWednesdays. Os álbuns ainda eram baixados (usei muito 4shared, me perdoem!) e sempre estava de olho nas redes sociais dos membros e dos grupos para saber as datas das turnês, lançamentos dos clipes ou simplesmente para interagir. Não falarei sobre as brigas que tiveram porque eu estava no twitter, vi tudo e fiquei triste. Não preciso de mais tristeza no momento, obrigada.
Infelizmente, o tempo passou e essas boy bands também. O The Wanted entrou em "hiato” (o que é um eufemismo para “acabou”) em 2013 e após isso acabei me distanciando do fandom. Ainda acompanhei bastante a One Direction até 2014, quando comecei a faculdade e me faltou tempo. Cheguei a reagir sobre a saída do Zayn em 2015 e, com ele, me afastei da 1D quase que definitivamente, vendo uma coisa ou outra até o hiato deles, no ano seguinte.
Hoje olho e penso que não deveria ter me afastado, que poderia ter aproveitado mais, porque tempo é uma coisa que não volta e fui muito feliz quando era mais ativa seguindo-os. Mas a vida acontece e, às vezes, ela é cruel. O que nos leva aos dois nomes que me fizeram escrever esse texto: Tom Parker e Liam Payne.
Nesses anos que fiquei sem acompanhar os meninos do The Wanted, me peguei por vezes lendo aqueles artigos “por onde anda?”. Da última vez que vi, Tom estava casado e sua primeira filha nascera. Fiquei muito feliz, porque ele e a Kelsey estavam juntos há anos e ver alguém que, de certa forma, fez parte da sua vida constituindo família me deixou bastante emocionada.
Só que o tempo passou e em algum momento da pandemia, as notícias foram devastadoras. Tom, então com 32 anos, agora pai de dois filhos, descobriu um tumor inoperável no cérebro. Lembro até hoje do nó na minha garganta e profunda vontade de chorar quando soube disso. Era tão injusto, a vida dele estava só começando, sabe? Os porquês ficaram rondando minha mente por muito tempo.
Mas se tinha algo de lindo no Tom, era sua resiliência. Mesmo fazendo sessões de quimio e radioterapia, em 2021 o The Wanted se reuniu e eles realizaram uma turnê e um show beneficente para angariar fundos e visibilidade às pesquisas de câncer. Ele participou até onde pôde e, em 30 de março do ano seguinte, nos deixou. Lembro exatamente onde estava quando vi a notícia: era horário de almoço e eu estava no trabalho. Durante as aulas obviamente não conseguia pegar no telefone, então aproveitei aquele intervalo para olhar as redes sociais. Ao abrir o Instagram, vi as postagens dos membros e entrei em choque.
Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, esse momento chegaria, mas isso não quer dizer que foi fácil ler que ele tinha partido. Uma enxurrada de lembranças da minha adolescência veio com tudo e precisei ir lavar o rosto, porque as lágrimas iriam descer a qualquer instante e eu, sinceramente, não queria dar explicações à ninguém no meu trabalho. Só queria processar e sentir. Dali em diante, o dia passou completamente no automático, não lembro de mais nada, além de que tive muita dificuldade para dormir. No dia seguinte, enquanto me arrumava para o trabalho, as lágrimas enfim desceram e não tentei lutar contra. Deixei que todo aquele sentimento de tristeza, dor e luto me consumir. Era tão injusto, sabe? Ele deixou uma esposa e dois bebês. Difícil entender.
O que tornou tudo mais real foi ver o cortejo para o enterro. A imagem dos demais membros do The Wanted carregando o caixão foi muito forte e mais lágrimas rolaram pelo meu rosto. Difícil demais ver alguém que fez parte da sua juventude ali. Aquele ano ainda foi mais difícil para mim porque meses depois, exatamente no meu aniversário, perdi um amigo com o mesmo caso que o Tom. Acho que daí já dá para imaginar meus sentimentos.
No velório, curiosamente, uma das pessoas presentes era Liam Payne, da One Direction. A rivalidade de outrora foi totalmente esquecida. Liam se apresentou no concerto beneficente, esteve presente na cerimônia fúnebre do Tom e deu todo o suporte à Kelsey, segundo a própria.
Sobre o Liam, especificamente, me afastei naturalmente porque não curti muito a direção a qual ele seguiu na carreira solo (acho que o estilo das músicas não combinavam com ele, mas é minha opinião, sem hate). Além disso, andei chateada por algumas falas que ele teve e acontecimentos que acredito que muitos saibam do que se trata (também não levantarei esse tópico aqui porque sinceramente acho que não vem ao caso). Apesar disso, achei muito legal quando ele se tornou pai e como sempre se fazia presente na vida dos outros membros, da forma como era possível.
Uma coisa muito importante também é que ele sempre falou abertamente sobre suas questões de saúde mental e o problema com alcoolismo que enfrentava, para conscientizar as pessoas. Porém, as polêmicas foram surgindo e tomando conta da memória das pessoas. Aquele Liam doce, centrado e gentil da época da banda foi sendo esquecido por muita gente, dando lugar a uma figura um tanto quanto controversa. Não estou aqui para fazer juízo de valores em cima do que houve com ele e nem entrarei em detalhes, porque, como eu disse, além de não estar acompanhando tão de perto, acho que não cabe levantar isso aqui.
No início desse ano, vi que ele iria colaborar com o JC Chasez (*NSYNC) e fiquei superempolgada. Quando Teardrops foi lançada, corri para escutar e gostei bastante. Ali, me animei para os próximos lançamentos e decidi que daria uma nova chance aos materiais solo dele e faria o possível para acompanhar mais, mas infelizmente não tivemos mais nenhum. Vê-lo no show do Niall me fez pensar se ele estaria bem, pois soube de sua presença lá por conta de ataques que sofreu. Daí passaram-se alguns dias e acho que ninguém esperava o que estava por vir.
No dia 16, eu estava terminando meu horário no trabalho e abri o Instagram. Ao ver os stories de uma amiga, vi a foto de Liam em preto e branco e gelei na hora. Fui atrás de notícias e infelizmente o pior foi confirmado: Liam Payne havia partido. Os meus olhos automaticamente marejaram e eu fiquei repetindo por tempos “não consigo acreditar, não consigo acreditar”. Dali em diante, como no dia 30 de março de 2022, foi tudo um borrão. Não lembro de mais nada, só da dor imensa no peito que senti há dois anos e que, lamentavelmente, estava de volta.
Fiquei horas lendo, tentando entender o que aconteceu. As lágrimas não tardaram a aparecer e, enquanto me arrumava para o trabalho, no dia seguinte, meu rosto foi tomado por elas. Não lutei contra dessa vez. Me permiti chorar, sentir, sofrer. Mal dormi nos últimos dias, para ser sincera. A cada atualização, meu coração aperta mais e às vezes me falta o ar.
Acho que o ponto sobre a morte do Liam é que foi de repente, mas quando paramos para prestar atenção em tudo noticiado sobre o que vinha acontecendo na vida dele, dá uma sensação estranha de impotência. Será que algo poderia ter sido feito? Talvez sim, talvez não. É difícil dizer.
Não acho certo culparem a namorada ou a ex, como andei vendo na internet. Não acredito que alguém esteja de fato feliz com o que houve, ainda mais como houve. Foi uma fatalidade. Entendo que estejamos tristes e confusos, pensando no que poderia ter sido de diferente, mas a realidade é uma só: ele se foi. Atacar outras pessoas não vai trazê-lo de volta.
Não estou comparando tragédias aqui, porque tanto Tom quanto Liam eram dois homens jovens que tinham toda uma vida pela frente, deixaram filhos, companheiras, famílias, amigos, fãs. No caso do Tom, dói porque a gente sabia que, infelizmente, aconteceria, só não sabíamos quando. No caso do Liam, dói porque foi repentino. Ele estava sozinho em outro país, longe da família, não sabemos exatamente o que houve. São inúmeras teorias, hipóteses e apenas uma verdade, a qual não temos conhecimento. As investigações estão em andamento, então precisamos aguardar.
O irônico de tudo é que ambos pereceram pelo cérebro: Tom, por uma doença física; Liam, por uma mental. É estranho pensar dessa forma porque não costumamos ver o vício como o que ele é: uma doença. O ponto é que eu sinto tanto, mas tanto pelos dois. Dói, é estranho, dá saudades, mas é isso. Não tenho o que dizer.
O que me fez refletir muito sobre tudo é que as coisas acontecem e nem sempre a gente entenderá. Não sei se entenderei os porquês, contudo acredito que isso não importe: entendendo ou não, eles não vão voltar. Ficamos buscando respostas para tentar nos confortar, mas elas não mudam os fatos. E isso causa um desconforto muito grande.
Não é o momento do clichê “aproveite a vida, pois do amanhã não sabemos”, mas acho que algo que podemos concluir disso tudo é que realmente não podemos perder oportunidades de falar o que queremos para as pessoas importantes para nós. Lembrando dos tributos de Harry, Niall, Louis e, especialmente, Zayn, o qual chorei muito, só me veio na cabeça que as oportunidades passam por nós às vezes deixamos ir sem lutar.
Tudo o que aconteceu com ambos me fez refletir sobre a vida. Estamos vivendo de fato ou apenas sobrevivendo/existindo? Porque em um dia você está abraçando seus filhos, e no outro pode nem estar mais aqui. Em um dia, você está no show de um de seus melhores amigos, e no outro você foi embora e pode nem ter se dado conta disso.
Nós que ficamos, precisamos urgentemente refletir sobre nossas palavras, pensamentos e ações direcionadas ao outro. Somos humanos, erramos, mas isso não nos dá o direito de nos colocarmos como superiores aos outros porque não fazemos o que o outro fez/faz. Todos sabem dos erros que foram cometidos, mas sinceramente, quem sou eu para julgar Liam Payne, que não teve a chance de aprender com os erros e corrigí-los? Quem sou eu para dizer que era para Tom Parker passar por tudo o que passou?
Um último ponto é que, especialmente no caso do Liam, precisamos muito refletir sobre a indústria da música e nosso consumo da mesma. Liam Payne é mais uma das inúmeras vítimas desse sistema cruel que aniquila sonhos, esperanças e vidas. Lembremos que, acima de qualquer coisa, ali são seres humanos que sofrem com a exploração e exposição massificada de sua imagem, sem direito à privacidade. Que nosso lado consumidor não ultrapasse nosso lado humano.
Ficam as memórias de uma época da minha vida onde tudo era mais simples e o acalento vinha de rapazes britânicos que queriam, sobretudo, viver a juventude. Sempre vou me lembrar da risada do Tom e como ele era engraçado, e do Daddy 1D como Leroy em Best Song Ever. O que quero guardar são os bons momentos que ambos me proporcionaram enquanto estavam aqui.
A verdade é que não sabemos o que se passa com ninguém (às vezes, nem com nós mesmos), então a mensagem que fica disso tudo está no tributo que Robbie Williams fez ao Liam: seja gentil.
Desejo forças às famílias, amigos, companheiros de banda e fãs, em especial à Aurelia Parker, Bodhi Parker e Bear Payne.
Obrigada Liam e Tom por fazerem parte da minha vida. Que vocês possam descansar em paz.