Esse não é um texto de amor

"Todo criatura viva morre sozinha"
"Toda criatura viva na Terra morre sozinha"

Algumas coisas levam tempo para serem compreendidas. A questão de relacionamentos é uma delas. E quando falamos sobre isso, costumamos enfatizar demais os amorosos, porém acabamos nos esquecendo de outros tantos tipos, principalmente amizades.

Ultimamente tenho buscado refletir sobre meu papel na vida de pessoas e vice-versa. Às vezes, me pego pensando por horas, lembrando de coisas, refletindo sobre outras e, por vezes, sou assolada por uma grande dificuldade de compreensão.

Frequentemente me via como sendo uma daquelas amizades que, independente das circunstâncias, estaria lá. Seja o que fosse, eu faria o possível - e o impossível - para ajudar meus amigos, porque sempre fui esse tipo de pessoa. Amizade acima de qualquer coisa, inclusive de mim mesma. 

E aí que estava meu grande erro o tempo todo.

O mundo gira. E, em alguma hora, você deixa de ser a pessoa que ajuda para se tornar a pessoa que precisa de ajuda. Isso demorou muito para acontecer, principalmente por eu ter essa mania de querer demonstrar força e autossuficiência o tempo inteiro. Mas o fato é que aconteceu e poucas vezes na vida me vi tão sozinha.

Então comecei a refletir e fui repassando na cabeça meu relacionamento com algumas amizades que eu jurava que tinha. Não foi surpreendente chegar a conclusão de que a maioria das minhas amizades eram unilaterais, ou seja, só um lado faz o esforço. Mesmo assim, doeu. Doeu ao sentir o peso da solidão. Talvez sempre tenha sido assim e eu tenha insistido demais em certos relacionamentos com medo de encarar a realidade, contudo uma hora a conta chega. 

E não estou dizendo que sou perfeita, porque com certeza já fui essa "amiga" para alguém. E realizar isso fez a ferida incomodar ainda mais.

Óbvio que todo mundo tem questões, problemas e dificuldades. Talvez aquele meu velho pensamento de "não quero ser um incômodo/problema" tenha afastado as pessoas. Talvez as pessoas tenham se afastado simplesmente por opção ou por ser o curso que a vida seguiu.

Entretanto, eu sempre acabo me sentindo culpada e vivendo um término de amizade ou um afastamento como se fosse um término de relacionamento amoroso. E até aí, acho que é OK. Estou aprendendo a viver meus processos de luto, mesmo que uns me deixem com um sentimento de revolta no peito.

Às vezes me sinto traída, às vezes me sinto magoada, mas começo a sentir indiferença. E, para mim, é o pior dos sentimentos. Sentimentos negativos em geral, apesar de tudo o que trazem, ainda nos permitem sentir algo. A indiferença não.

É um pouco cruel perceber que amizades de 15, 18, 25 anos acabarem reservadas ao canto da indiferença dentro de mim, mas é um movimento que vem acontecendo e que, sinceramente, não tenho tido forças o suficiente para combater.

Acho que, simplesmente cansei. Cansei de procurar, de convidar e ser ignorada, de falar sozinha, de não poder contar mais. Optei por me afastar, mesmo antes sentindo muito. Hoje em dia? Acredito ser da vida.

O tempo me fez começar a ver amizades como cíclicas. A vida é constituída de fases e nem todas as pessoas cabem nelas todas. E tudo bem. Viemos a esse planeta sozinhos, sairemos dele do mesmo jeito porque é assim que funciona. Entender isso faz parte do processo de amadurecimento.

Mas é inegável que amadurecer é duro. Demais.